Não vou comparar países, nem conjecturar sobre a vicissitude económica e os seus demagogos. Hoje questões mais altas se levantam e a minuciosidade da essência social ficará desfeita nessa náusea, que ultimamente me despertam as notícias...
Guardo memória do dia em que ele se despediu da sua família e no aeroporto da Portela em Lisboa embarcou num avião com destino a Barcelona. Não olhou para trás. Não quis ver as lágrimas de despedida daqueles que ficaram e não quis que eles vissem as suas. Aquele jovem partia em busca de aventuras. Partiu para cumprir a sua experiência de erasmus e naquela pessoa que hoje vagamente reconheço, germinava uma semente de ousadias que viriam a romper fronteiras. Aquele jovem era eu.
Já naquela altura tinha uma vaga impressão de que o sentido da existência das pessoas que estão longe, faz o coração ficar mais pequeno e apertado. Hoje posso afirmar que no contexto das vivências internacionais, muitas coisas bonitas reservará o destino, muitas experiências que não se podem desfrutar noutro conjunto de circunstâncias serão brindadas pela audácia de querer voar mais alto. Largar os amigos e a família nunca é fácil, mas o pior de tudo é abdicar daqueles que já têm pouco tempo nesta vida e que mais tarde ou mais cedo a natureza se encarregará de reclamar. Aí reside um dilema profundo que se confrontará sempre com a explosão energética de criar novos paradigmas e desafiar as opções que nos oferece a vida.
Fez ontem dois anos que faleceu a minha avó e fez antes de ontem dois anos que recebi uma chamada telefónica que me destroçou o coração. Apesar de ter feito tudo o que pude para estar presente, não pude chegar a tempo e acompanhar essa mulher que tanto me deu, nos últimos momentos da sua vida. Suponho que será uma das lições que se têm de aprender, neste jogo de brincar aos emigrantes... Nesse momento senti-me pequeno demais. Às vezes o meu país está tão longe! Às vezes é assim que é Portugal visto desde aqui! Longe do coração...
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