Como para qualquer português, a comida é uma parte bem importante na minha vida e é um dos pontos ao qual mesmo sem intenção premeditada, acabo sempre por observar com especial interesse. Desde que pisei terras holandesas pela primeira vez em 2003 a minha opinião mantém-se: na Holanda come-se mal e sem graça. Por outro lado há algumas coisas interessantes, sobre os hábitos desta gente, que comentarei mais à frente...
No dia-a-dia, pelo que tenho visto à minha volta, os holandeses não dão muita importância à qualidade das refeições. Ao almoço na cantina do trabalho eu sou o único que tenta montar uma refeição decente (sim porque para comer algo de jeito tenho de usar a criatividade, não há nada do estilo prato do dia) com uma salada, sopa e algum outro prato quente que se aproxime ao que eu estou acostumado a comer ao meio dia, dada a falta de imaginação que eles têm para variar cada dia o que há no refeitório Eles em contrapartida, em vez de escolherem algo mais tipo almoço, e menos tipo lanche ou pequeno-almoço, optam quase sempre por um par de carcaças de pão e uma pasta de atum (ou algo do estilo tipo queijo philadelphia) para barrar e para acompanhar duas fatias de queijo, uma sopa instantânea e o sempre certo copinho de leite branco, que é um costume engraçado que se tem na Holanda.
Uma mistura estranha na minha opinião, tendo em conta que para além disto, durante o dia muitos deles têm comida junto à secretária e comem uma bolachinha ou meio pacote de pão de forma a seco, ali em frente ao computador, assim sem graça e sem mais nada. Seria de esperar que uma ingestão alta de pão e comida de pouco conteúdo saudável os fizesse mais balofos, mas de facto é tudo ao contrário. Não sei se é por serem mais altos e por isso terem um metabolismo mais eficiente em termos energéticos, ou por andarem todos os dias de bicicleta, mas o que é um facto é que apesar de uma alimentação mais precária, vê-se muito menos gente gorda pelas ruas.
Quando há alguma reunião importante que se estende pela manhã, mesmo com visitas, existe sempre um tabuleiro com sandwiches e latas de refrigerantes (e o sempre certo pacotinho de leite) na sala, e o almoço faz-se ali em plena mesa de reuniões com um guardanapo a servir de toalha. Não há cá tempo para sair do escritório e ir ao restaurante, ou mesmo à cantina.
Outra coisa interessante é o tempo em que eles comem a sua refeição. Normalmente eu até sou do tipo que come rápido, quando estou entre latinos, mas no meio de holandeses não consigo deixar de ser o "pastelão". Em menos de 15 minutos, já toda a gente acabou de almoçar e estão todos à minha espera.
Para quem quer comer na rua a coisa não muda muito. Eu Espanha habituei-me ao menu dos restaurantes com dois pratos e sobremesa e em Portugal já sabemos como é, mas aqui abundam os kebabs e as turquish pizza e a maior oferta de restaurantes para a hora de almoço são sempre de fastfood, não há menus, nem tempo para comer com calma. Se calhar faz parte da estruturação que eles têm para aproveitar o tempo ao máximo e deixar a refeição tranquila para o lar.
Eu não sei como é ao pequeno-almoço e ao jantar nas suas casas mas pelo que vejo nos carrinhos de supermercados, consome-se muita comida preparada e muitos alimentos embalados ou enlatados. Como em qualquer país ocidentalizado, a maior parte das compras fazem-se nos supermercados, onde todos os productos estão concentrados no mesmo ponto e se pode encontrar de tudo. Até aqui tudo bem, nada de especial, a coisa é mais ou menos a mesma, se não fosse o facto que metade da oferta de comida que há é preparada ou do estilo lei do menor esforço, tipo patés para saladas, batatas e cenouras já descascadas e pratos pré cozinhados. Mas no que toca a comprar carne e peixe a oferta é básica e para além de peças troçadas ou congeladas, não se encontra muita variedade nestes supermercados, o que nos leva a pensar que se calhar é melhor fazer esta parte da compra em estabelecimentos específicos como talhos ou peixarias.
Mas depois de muitas voltas e investigação pelas redondezas do nosso bairro, descobre-se que os talhos e peixarias são escassos (pelo menos comparados com Portugal e Espanha) e é uma desilusão tremenda tentar comprar alguma coisa ali. A não ser o mercado semanal de cada cidade, é difícil ter comida que satisfaça as necessidades, pelo menos as minhas. Eu gosto de ver os peixinhos estendidos no gelo e escolher o que mais gosto no meio da grande variedade, ou chegar ao talho e ver as peças de carne no expositor e penduradas na arca frigorífica. Neste país não funciona assim. No talho a carne esta toda cortada às fatias e na peixaria há quatro variedades de peixe, dos quais metade está também apresentada em forma de filete...
Talho a retalhos...
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